terça-feira, 20 de maio de 2008

Mochilando - Conclusão e Resumo

Olá meus caros leitores!

Sei que demorei em fazer meu fechamento do Mochilão. Mas a demora foi devido à falta de tempo. Dois dias após nosso retorno, voltei à minha rotina profissional, exigindo muito de minhas mãos, até então, descansadas e sem dores.

Bem, muito se passou, por muito eu passei. Muito vi, conheci, vivi e aprendi. Frio, calor, cansaço, descanso, dores, saúde, medo, alívio, correria, calmaria, novidade, saudade. Tentei relatar ao máximo, sempre que possível, nossas vivências em meus textos.

Por 29 dias, percorremos 5 países da América do Sul com 14 paradas por diversas cidades:

Uruguai: Montevidéu, Punta del Leste.
Argentina: Buenos Aires, Bariloche, Villa la Angostura, San Martin de los Andes.
Chile: Osorno, Santiago, Arica.
Bolívia: La Paz.
Peru: Puno, Cusco, Águas Calientes, Lima.

Não sei ao certo dizer quantos quilômetros percorremos. Até Bariloche fomos de avião, com exceção de Punta Del Leste e San Martin, que fomos de ônibus. Depois disso, fomos até Cusco via terrestre. De Bariloche a Osorno, 5 horas. De Osorno a Santiago, 12 horas. De Santiago a Arica, 30 horas. De Arica a La Paz, 8 horas. De La Paz a Puno, 8 horas. De Puno a Cusco, 6 horas. Percorremos o Chile de Sul a Norte de ônibus. De Cusco a Lima, 1 hora e 20 minutos de vôo. De Lima a São Paulo, 12 horas com escalas em Santiago e Buenos Aires. Veja o mapa para ter uma idéia melhor do que estou falando:


Primeiramente, relatarei minha conclusão. Depois, alguns fatos que talvez somente eu e minha irmã entenderemos. Mas será também, como um diário para nós e para quem acompanhou pelo Blog.

1 - Meu relato conclusivo:

Essa viagem foi a maior aventura que eu já fiz até hoje na minha vida. Nunca havia passado um mês fora de casa, longe de minha mãe.

Quando pensei em fazer este mochilão, sabia que seria algo único, para a vida toda.

O filme Diário de Motocicleta, que relata um “mochilão” de Che Guevara, somente afirmou essa minha vontade.

Todos me diziam para viajar para a Europa, mas eu não tenho essa ambição. Queria primeiro conhecer meu continente, depois, os outros.

Sugeri a minha irmã de fazermos juntas, também porque ela já havia mochilado pela Europa e tinha muito mais idéia de como fazer. Ela no começo não punha fé, mas depois percebeu que eu falava sério e começamos a pesquisar e planejar nossa viagem.
Ficamos mais ou menos 8 meses planejando e organizando tudo, comprando passagens, reservando albergues, traçando nossa rota e comprando os acessórios necessários.

Eu dava preferência para as belezas naturais e a Renata para as belezas das metrópoles, mas uma opinião única era sobre o Machu Picchu, logicamente. Eu queria passar pelos países acima do Peru também, mas não haveria tempo e nem dinheiro. Consegui convencê-la a passar na Bolívia, um dos países que a Renata achava meio perigoso e que acabou sendo um dos lugares mais inusitados que passamos.

Tudo era uma incógnita. Não conseguimos comprar passagens de ônibus após Bariloche. Pela net não havia. Depois tivemos a informação que precisávamos comprovar nossa saída de cada país, senão não nos deixariam desembarcar, por isso nosso medo, pois não tínhamos todas as passagens.

Havia diversos rumores sobre os desertos por qual iríamos passar, não tínhamos a menor idéia do que seria após Santiago. Se fôssemos pro Atacama, teríamos que pegar algum ônibus para La Paz, o que era óbvio que não tinha. Pesquisando muito, todos diziam que teríamos que alugar ou contratar um 4x4, negociar os preços na hora, e que ficaríamos obrigatoriamente alguns dias no Salar de Uyuni (que faz frio abaixo de zero a noite e calor inigualável ao dia), já na Bolívia e de lá pegar trem ou ônibus para Oruro e depois, La Paz.

Isso deixaria nossos dias mais que contados. Pensamos em pular a Bolívia, pois fora isso, não sabíamos nada sobre hospedagens mais a fama de estradas precárias e transporte caindo aos pedaços. Mas, acabamos deixando para resolvermos na hora.

Mas não só isso era uma preocupação para nós. Quando chegamos a Montevidéu, soubemos que nosso banco não realizava saques internacionais e não havíamos levado tanto dinheiro, além dos cartões de crédito, também por segurança. Ou seja, tivemos que economizar ao máximo tudo que podíamos para não faltar dinheiro, pois quase todos os albergues só aceitavam dinheiro nacional e, como já disse, não sabíamos como negociaríamos nossas viagens a partir do Chile, crédito que não seria.

Descíamos dos aeroportos e toda informação turística mandava pegar taxi até o albergue. Mas o que gastaríamos equivalente a 40,00, com o ônibus de linha, gastaríamos 1,00. Assim como para nossas refeições, que cozinhando no albergue, economizávamos. Quando não podíamos cozinhar ou não achávamos mercado, comíamos mal. Tudo tinha que ser extremamente calculado.

Daí, tínhamos as preocupações de entender as explicações de alguma pessoa disposta a explicar, achar o ponto, entrar no ônibus de linha correto, descer no ponto certo e achar nos mapas as ruas corretas. Tudo era uma preocupação, fora o peso das mochilas. Não tínhamos ninguém para ligar pedindo um help, éramos somente nós duas.

Imagina você, um estrangeiro descendo no aeroporto de Congonhas, falando um português em que a maioria não entendia e você os entendia menos ainda, querendo saber como chegar ao Centro de São Paulo de ônibus (pros lados da Sé). Com as preocupações sobre a falta de segurança, num lugar que você nunca esteve, encontrar o ponto certo, pegar o ônibus lotado tendo que ficar em pé com uma mochila de 13 kg nas costas e mais 3 nas mãos, procurar o dinheiro certo para a passagem, encontrar alguém com boa vontade e paciência para te explicar sobre qual ônibus pegar, onde descer e tentando entender o que a pessoa falasse, daí partir a pé até a hospedaria seguindo um mapa, muitas vezes, confusos, rodeado de pessoas e coisas estranhas. Era mais ou menos isso, um pouco pior.

Por isso, toda entrada e saída das cidades ou países era uma preocupação.

Depois de encontrado o albergue e ter dado tudo certo, era só alegria (tirando o fato das comidas). Passeávamos por todos os lugares que podíamos, saímos 7 da manhã e voltávamos umas 8 da noite, sempre de metrô ou ônibus.

Conhecemos muitas pessoas de várias cores e tamanhos, lugares, vimos e sentimos coisas inexplicáveis, passamos frio, calor, fome, gula. Falamos e misturamos todas as línguas possíveis, assim como ouvimos, até sermos entendidas e entendermos.

Como disse minha irmã, isso sim é um mochilão!

Felizmente, tudo acabou bem, tudo deu certo!

Entre vídeos e fotos, somando nossas duas câmeras, deram 4 mil arquivos.

Uma viagem como essa, faz você refletir sobre muita coisa, sobre a vida que você leva, seu dia-a-dia. Vi muita pobreza e pessoas lutando para sobreviver, num clima nada favorável, assim como sei que há muito no Brasil. Vi muita riqueza nos estrangeiros que exploram e esnobam os mais humildes que estão em seu próprio país. Você percebe que por mais que você saiba o quanto ama sua família, na verdade, você não sabe. Você percebe que ter um lar com pessoas queridas te esperando, pode ser a coisa mais valiosa que exista. Você percebe, que amigos de verdade, se preocupam com você. Você percebe que Deus, é um só. Você percebe que um abraço, é igual em qualquer terra. Que um gesto de bondade, é entendido em qualquer idioma. Que um choro, não precisa de dicionário. Você percebe, que o seu país tem mais valor que o que você dava. Você percebe que recomeçar não é o fim do mundo, e que esse mundo, é muito maior que o seu vai e vem do trabalho para casa. Há mais pessoas respirando que as que você conhece. Por pior que seja a dificuldade, você a supera. Por maior que seja sua fome ou sede, você agüenta. Por mais frio ou calor que você passe, você sobrevive. Por mais distante que pareça seu destino, você chega. Por mais impossível que pareça seu objetivo, você o alcança. Por mais criticado que seja seu sonho, você o realiza.

Palavras de uma mochileira!

Obrigada a todos que acompanharam virtualmente, família e amigos, que nos deram apoio e força para continuarmos nosso percurso! A Deus por nos proteger em toda a nossa viagem.

Amo meu Brasil, meu país, meu português.

Renata, minha irmã, eu jamais teria conseguido sem você, e com você, tudo foi mais fácil e mais feliz! Obrigada por me acompanhar e cuidar de mim quando precisei, por me deixar cuidar de você e te acompanhar. Obrigada por tudo!

Nanda P.


2 - Meu resuminho da viagem:

A demora para cair a ficha do pouco que estava acontecendo e de tudo que estava para acontecer, o susto ao sair do aeroporto de Montevidéu, o medo ao perceber que não entendia espanhol como pensava, o choque ao ver as ruas pobres e as charretes, o pânico pelo caminho deserto e seus longos quarteirões sujos e sombrios, o cansaço do peso inevitável de 13 kg em minhas costas e 2 kg nas mãos, o “Four Streets” da moça preocupada, o alívio de encontrar a Rua Bartolomeu Mitre, o chegar ao Hotel Palacio procurado, o descanso no quarto reservado.

A falta de leite quente com chocolate, de feijão, de pipoca com manteiga. O frio inesperado, o vento gelado. A água salgada, o meu italiano para a caixa do mercado “Sono io”.

A decepção de Punta, Maldonado, o caminhar em vão pela rodovia sob o sol escaldante.

A graça do país nunca percorrido, do idioma desconhecido, das músicas diferentes, da cultura provinciana da garrafa térmica embaixo do braço ou em cima do carro, dos amigos dispostos a nos mostrar a boa pizza e as belezas de sua cidade.

O dinheiro confuso, a criança afogada. A carência de pessoas negras e o excesso de pessoas loiras. A dúvida na pergunta se no Brasil tinha imigração e a impaciência do guiche.

A correria sofrida por causa da desorganização da Pluma, os formulários de saída - entrada, a velha do Perdon pegando minha bolsa, o calor ardente de Buenos Aires. A busca por moedas no ônibus, o motorista índio estressado, o atropelo de pedestres, a rua estreita, o velho perguntando sobre o mapa na esquina, o albergue Garden House e seu erro na reserva, o dormir em San Telmo.

O se sentir em casa por sua poluição, trânsito, buzinas, engravatados, prédios altos e o não parar da cidade, seja dia, seja noite.

A falta de hipermercados, o coreano nervoso vai levar ou não vai levar, o tomate impalpável que não era fruta, o proibido passar na placa de piso molhado. A alemã simpática, os americanos esnobes, os brasileiros arrogantes.

O metrô amarelo que não era trem de carga, a insistência da Renata de que todos os estrangeiros são tarados, o balconista da confeitaria, a Rua Florida, a casquinha no Mc Donals, a utilização da palavra que eu sabia, “tienes cucharra” “cucharrita?”, o tango de rua em frente a C&A.

A vontade do tango eletrônico por 30,00 pesos argentinos, o trio celta no túnel do metrô por 12 pesos argentinos e a foto não tirada por 5 pesos argentinos no Caminito.

A exploração do tango de Carlos Gardel, do futebol de Maradonna e Boca Juniors, do revolucionário Che Guevara e do túmulo de Evita Perón.

As paredes coloridas do Caminito, os gringos filmando eu sambar, a busca em vão por Abaporu de Tarsila do Amaral, o relaxar perante Floralis Genérica, o homem e o filho indicando o ônibus em português.

A gorjeta por engano de 6 pesos pro garçom, o tango no restaurante, o velho cantor e seus CDs com Roberto Carlos, o queimar da água quente do chuveiro, o jardim japonês, a busca pela câmera em frente ao obelisco.

As pegadinhas cômicas no vôo da Lan com a mulher congelada, o casal cabeçudo que tirou o lugar do casal com os gêmeos, o frio de Bariloche, o aeroporto de madeira faroeste, os anúncios de “procura-se” com foto e recompensa, o azulado Nahuel Huapi, o albergue 45 Below, os teleféricos, as paisagens fundo de tela e irreais, o lixo voador, a confeitaria giratória, o meu sotaque para a brasileira, o ônibus que não chegava, a guia estilo CVC, os 7 lagos, a estrada precária.

O ônibus quebrado na estrada, o pânico no rancho com estranhos também perdidos, o espanhol da índia indecifrável, as tortas fritas, os meninos americanos e nosso papo, pumas e frutas vermelhas, o chamar para a polícia, o chegar da guia descabelada, minha cara de brava quando o casal entrou no ônibus.

O preço elevado de San Martin de los Andes e seu calor ardente, o hippie grosso “vai pensando”, o olho biônico da guia, o cervo minúsculo, o acordar súbito dos passageiros e suas câmeras, a chuva nas montanhas, a nuvem atômica.

Os mochileiros bichos-grilo, o tarde anoitecer, a hambuerguesa na praça, o não tocar do relógio Soneca, o sair na escura manhã, o Girafales na rodoviária.

O primeiro passar mal por altitude até a fronteira do Chile. Aduana maldita, solte minhas maçãs!

O correr pro banheiro em Osorno, o calote ao sair, a busca por comida nos hipermercados, o cartão de crédito por 1 real, as ruas estilo Brás, às 7 horas de espera sem mijar pra não pagar, a senhora amorosa e seu chaveiro da Goodyer, a palomita doce, o início da população de índios.

O segundo andar da Tur-Bus, às 12 horas varando a noite, o filme do cachorro, Letra e Música, a água com gás, o cobertor e o travesseiro, o mp3, o lanche frio, o Nescafe e o brownie.

O cansaço ao chegar a Santiago, as músicas altas das TVs da rodoviária, o metrô lotado, o homem nada gentil, o andar interminável ao albergue Hostal Americano, a bronca do dono, a porta que não fechava, a aranha sob o lençol, a cozinha suja, o cabelo grudado no armário, o pó em cima da geladeira, nosso leite roubado, os japoneses, os brasileiros baianos, as torradas de manhã, o almoço no jardim, o Nuggets com gosto de ovo, o suco pozinho de laranja passada e o espaguete sem molho.

A poluição facilmente sentida, os carrões desconhecidos, os Cerros e a vista para a Cordilheira dos Andes, a fonte dos desejos e minha moeda argentina encontrada no chão uruguaio, a fogazza meio pastel da índia estúpida mulher do gringo simpático, a trança do “quanto pelo”, o lhama enfeitado na porta do zoológico, o funicular, o teleférico quente, longo e inútil, a vertigem no morro pela foto, os perros, as lembrancinhas no mercado de arte indígena, o som da ocarina e o menino poliglota, a banda Fuga na Rua Ahumada, o mapa infantil, as lembrancinhas e os postais.

O medo pela próxima viagem, a saudade de casa, o conforto em ouvir a voz da mãe pelo telefone, a desistência do Atacama, o moço índio na rodoviária e suas malas, as intermináveis 30 horas no ônibus para Arica, as paisagens desérticas, as cruzes de mortos, o pacífico por trás da insistente cordilheira, os cata-ventos da energia eólica, o Cinemark em La Serena, as dunas de areia em Iquique, a gorda que deitava o banco, o senhor peruano prestativo no ônibus, A Escola do Rock, novamente os risos no filme do cachorro e Letra e Música, os cansativos Mr.Bean, That’s 70 Show, a propaganda do lanche frio, Indiana Jones, Tomb Rider, a hipnose da estrada reta sem vida, a loucura dominando sua mente.

O calor praiano e desértico de Arica, o táxi quente com banco de pelos cinza e sua motorista, a demora do homem estranho do albergue Hotel Casa Kolping, a janta no Mc Donalds sem palta, a aconchegante praça, o morro e seus pássaros, a enorme bandeira do Chile, o vento gelado, o alívio de ter dado certo e aguentado, o primeiro contato com o Pacífico e sua areia com pedras, o cachorro e seu osso rosa, a feirinha, El Condor Pasa na flauta, os jogos de tabuleiro, a cigana insistente, a refeição no restaurante vintage, os táxis coletivos, o porta-malas automático.

Mais 8 horas no ônibus da Pullman, o filme O Atirador, as belas paisagens, as subidas por volta das cordilheiras, as nuvens na altura de nossa janela, o lindo vulcão Chacaltaya, os lhamas, alpacas e guanacos no pasto, os lagos espelhados e os primeiros sintomas da altitude.

O quase desmaio na fronteira Chile - Bolívia, a moça vomitando atrás de nós, seu pai preocupado e simpático com arame no dente, suas sacolinhas e seu papel higiênico, meu limite e meu vômito na roupa, o banheiro sujo, sem papel e sua porta giratória sem tranca, a primeira visão do alto de La Paz, o taxista simpático, seu carro velho com o retrovisor quebrado e amarrado.

O trânsito sem leis, as buzinas incessantes, a epidemia de cholitas e seus filhos nas costas, o frio e o sobe-desce de suas ruas confusas, a cama matrimonial do albergue Hotel Fuentes, o quarto triplo, a lembrança agradável da confusão de SP, muitos camelôs, a falta de mercados, o passar mal da Renata, os clipes latinos na tv, o sabor do chá de coca, os guardas simpáticos, o gorro com tapa-orelhas de lã de alpaca com desenhos de lhamas, o leite evaporado com gosto estranho, o pão mais estranho ainda, o restaurante de madeira cheirando verniz com a bonita decoração e músicas da Antena 1.

O chapéu na cara da cholita, as comidas nojentas, os maus-cheiros, o bolo incomível da Arcor, a batata frita gordurenta, a sopa com bolas pretas, os líquidos nos copos com bolas amarelas, os protestos de cholitas e estudantes, o flautista cego, o barulho dos fogos, o salve-se quem puder ao atravessar a rua, o gosto da Bolívia.

As 8 horas para o Peru, o recusável desayuno do ônibus, o homem índio japonês dentuço de bigodinho com a janela aberta, a garrafinha de coca-cola, o filme Dia de Treinamento, as ruas de terras alagadas, a falta de saneamento, as casas de tijolos, o vai e volta do ônibus em busca de estrada, a paisagem florida, o lago Titicaca boliviano, a divertida fronteira, as bicicleta-táxis, os italianos simpáticos.

O lago Titicaca peruano, o rapaz da rodoviária de Puno e sua praticidade, a carona de Van com o índio para o albergue American In, o vazio gelado, o campo de futebol irrigado, o índio recepcionista e seu leite frio, a salada, o mercadinho, a alegria em encontrar batata Lays, bolacha Oreo e Twix, o mercado de frutas, o passeio para o lago Titicaca, o parque de diversões, os brasileiros no barco, os portugueses, o guia índio chato, a confusão com os coletes salva-vidas, o frio da Ilha flutuante dos índios Uros, o chão de bambu, a menina mercenária, o troco pela foto com a cholita, seus lábios e rostos queimados pelo frio, o gosto de Totora, o recusável andar na “jangada”, os chilenos simpáticos, os raios no céu e muito, muito frio no porto e na noite no albergue.

O partir para Cusco, a chave esquecida no bolso da Renata, o ônibus cheio de gringos, eu ser a única morena, Juno, O Assassinato de Jesse James, a gringa “não entendo por que eles não terminam as casas” com seu dobra cílios e sua grande maleta de maquiagem, minha piranha azul esquecida na cortina amarela, a chegada, o encontro com a mulher do albergue Hostel de la Jueve com a placa escrita Renata e Fernanda, o quarto e o chuveiro gelado, mais uma porta que não se abria, a Globo na TV, a novela do Paco e Beleza Pura, a matéria dos refugiados no Brasil e o “começar de novo”.

A graça e a beleza inocente de Cusco com sua Plaza de Armas, “tiene Méc Donalds? No? No? Ah si, Mác Donalds, si, si”, Bembo’s, a busca por agências, o grupo folclórico, o frio e a garoa, o mercadinho e o chocolate de lhama, a alteração da passagem para Lima, o lixo da Gol, a salvadora meia fio 20 que apertava o dedão para dormir, o City Tour, o guia, os museus, a foto com as cholitas e o lhama filhote, um es poco somos tres, amiga, amiga, una propina solidaria, a menina e o Lula, a comida gostosa do restaurante, amiga, amiga, puedo engraxar su sapato? Por que no? Amiga, amiga.

As ruínas incas e suas historias, o constante passar mal da Renata, o se sentir no Indiana Jones ao sair das ruínas pelo corredor de amiga, amiga, a foto com o lhama e alpaca, o cheiro de lhama, o menininho explorado pelas câmeras dos turistas (inclusive a minha), amiga, amiga, o congestionamento de turistas, a água da fonte que dá diarréia eterna se bebida, a igreja inca-cristã, o Vale Sagrado, a linda paisagem sem profundidade, a vista confusa, a vertigem, os morros, as pedras, os caminhos estreitos, a chuva, o frio, amiga, amiga, o rio, as e os argentinos, o francês, o brasileiro, DVD com fotos no ônibus, a comida ruim no self-service, a dupla de artistas.

O lhama agressivo e fotogênico, o milho gigante mutante, o cachorro sem pelos, a dupla de meninos flautistas na montanha, as crianças e os postais do Titicaca, as esperas na Avenida Sol, a garotinha com suas pulseiras e disposição para encontrar luvas pretas declamando seu texto decorado sobre o Brasil, o jogo de ludo inca, o apagar das luzes na loja, o italiano correndo pro ônibus e sua namorada Joli, as roupas molhadas e sujas de barro.

A chegada em cima da hora do taxi com o homem da agencia, a sirene de partida do trem azul pro Machu Picchu, nosso desespero ao correr para o nosso distante vagão, o casal a nossa frente, o estranho vai e vem do trem e o medo de estar quebrado, os gringos passageiros, o alemão gordo nojento e sua jovem namorada, as lindas paisagens, o rio Urubamba nos acompanhando, a selva ao nosso redor, a chegada em Águas Calientes, o calor inesperado, o guia com a bandeira dourada, o ônibus e as primeiras vistas do Wayna Picchu, as impressionantes montanhas, novamente a ida ao banheiro sem pagar, o guarda-volumes, o subir caminhando rumo ao Mapi, os lhamas selvagens pelo caminho.

A primeira e inesquecível vista do tão sonhado Machu Picchu, as milhares de fotografias, a bandeira do Brasil, o lhama filhote que apareceu chorando e posando para as fotos, a alegria contagiante, a descoberta que o Machu Picchu (pico maior) não é o mesmo dos postais (Wayna Picchu), o guia nos chamando, o continuar pela Cidade Perdida, as fotos e fotos, a Venezuelana que já morou em São Paulo e sua amiga fotógrafa, o chegar lá embaixo, a chuva passageira, as capas de chuva, o almoço com Lays e Oreo, o descanso, a decisão de subir novamente, o cansaço inevitável, o índio e seu aviso “guarda tu bandera” senão o fiscal a pegaria, a reflexão em frente a visão da cidade perdida, o sentimento de conquista, a despedida, o descer de volta, o ônibus, as lojas e as camisetas, o rio, a estação, o banheiro, “estas cerrado” “hm?” “estas cerrado” “?” “cerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrado” “ahh gracias!!”

O trem para voltar, a loira da Republica Checa e nosso papo poliglota, a japonesa e seus amigos, a vendedora de Choclo (milho) e a alegria da Renata, o ataque de riso com os japoneses dormindo e o tédio das meninas escrevendo na borda do diário e rodando o cordão do gorro, minha indisposição aparecendo, a estação, o carro da agencia que não foi nos buscar, a procura por taxi honesto, o gordo e o peruano buscando por taxi, o taxista elevando o preço por sermos turistas, a chegada no albergue e minha fome, meu passar mal noite adentro.


O último dia em Cusco, o constante frio, minha permanência no quarto, o partir para o aeroporto, minha horrível dor nas costas, o chegar a Lima, o calor terrível, a busca e negociação por um taxi, a ida beirando o Pacifico, o albergue Miraflores, a beliche, o ventilador, a cozinha no ultimo andar, o supermercado de madames Wong, os carrões, os Boys e Patys e a ausência de índios no bairro nobre, nosso almoço decente, Inca Kola e sua cor amarelada com gosto de chiclete, os gringos do albergue, o australiano, o chato Francis com seu inglês mesmo dizendo que éramos brasileiras e podia falar em espanhol, os DVDs, Quarteto Fantástico 2, o filme do cavalo no deserto, o musical do Jonny Dep, Friends, o show com a Daniela Mercury, o computador com webcam, o conforto em falar com meu namorado e os amigos pelo PC, o calor, meu continuo passar mal pela terrível dor nas costas, a saudade de casa.

O ônibus para o centro de Lima, “es perigoso”, o mau cheiro, o passageiro com um filhote de cachorro, o homem com a sonda, o vendedor de clipes coloridos, o casal, o calor sufocante, o transito caótico, as ruas sujas e fedidas, as varias gráficas, a distante Plaza de Armas, meu cansaço, a casquinha no Bembo’s, “puedes ser copito?” “NO, quiero CONE”, o ônibus de volta, o cobrador cheirando sebo, a senhora e a menina sentadas, minha cabeça no teto solar, as canetas com calendário do Mapi, o cambio atrás do motorista.

O último dia em Lima, o Mc Donalds dois dias seguidos, “Jugo de Naranja” “Coca?” “Jugo, Naranja” “Inca Kola” “jugo, naranja, naranja, jugo” “??” “ALI, AQUILO, A FOTO DA NARANJA” “Ah si, es mas 3 pesos no custo” “TRES?? Enton NO!”, as mochilas prontas, o taxista e as musicas Disco, o preço do taxi, a noite bonita de Lima.

O aeroporto, o único pedido da carteirinha de vacinação contra a febre amarela, meu terrível sono na espera do vôo atrasadíssimo da Gol, o chocolate quente, os meninos e seu brinquedo de montar, o embarque, o braço da minha poltrona quebrado, o desconforto, o lindo nascer do sol nas alturas, o café da manha interrompendo meu cochilo, a impressionante cordilheira vista por cima aprisionando as nuvens, a menina do nosso lado, as inacabáveis 12 horas, as turbulências ao chegar ao aeroporto em Guarulhos, o voar em círculos do avião em meio as nuvens escuras e tempestades, o pouso aliviado e as palmas dos passageiros.

Missão cumprida! 38 horas sem dormir. Alívio, alegria, cansaço e emoção. Sentimentos de uma aventura que ficará eternamente guardada em nossos corações.

Cheguei e fui direto ao Ragazzo comer a deliciosa lasanha bolonhesa! Detalhe de eu dizer “si”, “no” e “gracias” pro garçom, pensar “nossa a mulher da mesa do lado ta falando português!!!!!!!!!” e vários outros micos até me acostumar novamente com minha maravilhosa língua!

Valeu irmãzinha!

Até a próxima, meus caros leitores!

Nanda P.

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